terça-feira, 4 de outubro de 2011

O humor de Mario Quintana... Ora bolas!

Andava precisando sorrir, dar boas gargalhadas. Dizem que todas as formas de coragem, a capacidade de rir é a mais terapêutica. Sozinha no sitio nem a mulher refletida no espelho me animava. Estava com saudades da minha coragem, precisava revitalizá-la. Fui até a estante e peguei um livrinho de humor encantador que desencantou minha coragem de vez e me pôs a rir sem parar...

O livro contava sobre o grande Mario Quintana , um dos melhores poetas brasileiros. Gaúcho como eu, pois nasci naquele belo estado e visito-o todo ano. Minha família vive lá. Eu e poucos parentes “emigramos” para outros estados deste imenso e belo país.

Voltando ao Quintana, este nasceu na cidade de Alegrete em 30 de julho de 1906 e faleceu em 1994 em Porto Alegre, capital do estado. Esta cidade o poeta escolhera para viver. O livro que estava lendo chama-se “ ORA BOLAS” e são historinhas de humor do poeta / jornalista / humorista / escritor Mário Quintana, compiladas por Juarez Fonseca.

Mario Quintana é um dos melhores poetas brasileiros de todos os tempos. Sua significação só tem aumentado e continuará a aumentar. Poderá ser lido séculos à frente , se existirem séculos, porque sua poesia é rigorosamente universal e atemporal. Sua obra está toda aí e disponível.”

Ele proibiu, em testamento, que após a sua morte não se publicassem edições póstumas, nada de poemas inéditos.E para ser mais radical, ainda recomendou a sua sobrinha Elena que permanecesse alerta; “ Se aparecer alguma coisa psicografada por mim, não fui eu quem psicografou”.

Comecei a rir no inicio pois Quintana se dizia filho de “ Freud com a rainha Vitória”. Era um piadista do cotidiano e é sobre este humor que vou colocar algumas passagens para vocês se divertirem também:


Certo dia o Pintor Waldeny Elias, seu amigo, quis presenteá-lo com um quadro grande , ele preferiu um bem pequeno de 6cm por 4cm. Retribui o presente com um livro seu e na dedicatória justificou –se por não ter aceito o quadro grande:

- Elias, me desculpe e acredite. Eu não tenho paredes. Só tenho horizontes...

Depois de sofrer uma acidente e quebrar o fêmur ( necessitava colocar uma prótese) precisou ficar uns dias no hospital, comenta:

-Paciência, ora bolas. Vou ter bastante tempo para trabalhar. Só que agora meus poemas vão sair de pé quebrado...

Ao saber que a prótese seria de platina:

-Ah! Agora sim, vou ser um poeta de valor...

Uma fã apoiada nos tantos poemas que Quintana escreveu sobre a morte , insiste(chateando) em interrogá-lo sobre questões do céu, infinito, eternidade...
Ele aproveita e responde:

- Acho que o céu deve ser muito chato, porque lá tem chatos de todos os séculos. Talvez seja melhor aqui, pois aqui a gente só agüenta os chatos da geração da gente.

Amigos de trabalho conversando num bar sobre a mudança de costumes:
-Antigamente, se o sujeito queria dançar, só tinha o cabaré ou o baile do clube. Agora tem a boate, onde o cara pode ir com amante ou com a mulher, pode levar até a mãe que tudo bem...
Mario, que ouvia quieto, não perdeu a oportunidade:

- O Édipo levaria todas no mesmo dia. A mulher, a amante e a mãe...

Acontece um recepção ao poeta e diplomata Décio Escobar amigo de Quintana,gaúcho radicado em Minas Gerais.No meio da noite, Escobar, inspirado pela agradável conversa e pelo vinho, rabisca poemas. Lê em voz alta. Em determinado momento, interrompe e se dirige a Quintana com uma dúvida:
- É rócio ou rocio?

E Quintana, alto nos dois sentidos:

- Tanto faz. Só um imbecil para usar uma palavra dessas num poema.

O Poeta está de ótimo astral no dia em que o produtor de discos Roberto Santana, responsável pela gravação da Antologia Poética (seu livro) , apresenta a ele sua bela namorada baiana:
- Ela faz poesias...

Quintana simpático:

Ah, que beleza. Acho que todo mundo devia fazer versos , né? Desde que não viesse me mostrar.

Três dias antes de morrer, ele achou inspiração para escrever uma frase e dá-la de presente às enfermeiras que cuidavam dele no hospital:

“A maior dor do mundo, é pente com dor de dentes”


Bem, vou parar por aqui, só queria colocar uma amostra para aqueles que gostam do poeta e para os que não conhecem-no, uma dica - ele é um dos melhores.
Passou meu mau humor, li o livrinho por inteiro, porque se gosto só largo quando termina. Encerro com uma frase que ele disse quando queriam rotulá-lo como um doce anjo:

“Em mim há um anjo e um demônio e que, ao contrário do que se pode pensar, não brigam entre si, convivem”

Concordo com o poeta, sinto a mesma coisa...

ALICE LUCONI NASSIF